sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Não ir mais para Pasárgada

Não ir mais para Pasárgada

Eu já estava de malas prontas: ia pra Pasárgada— para quem não recorda,ou nunca soube ,é o reino feliz inventado por Manuel,o Bandeira,onde ele iria dormir com a mulher escolhida, na cama do rei.

Bandeira, o nosso, foi um poeta maravilhoso. (Gosto dessa palavra embora ande tão banalizada. Se a gente olhar ou escutar direito,ela ainda diz alguma coisa —e é boa,e forte.)

Lá não tem noticia ruim, desgraça, acidentes, politicagem nem deslealdade. Lá crianças não comem lixo. Lá não existe homofobia, nem declarada nem sutil, lá não se precisa ser competente nem brilhante, ou atleta sexual, ter os melhores cartões de credito, o carro mais potente, o apartamento em Londres ou Paris.

Lá também nao há instituições,e se houvesse,funcionariam.

Lá basta ser gente.

Para lá eu quis escapar deste reino das frases infelizes e atitudes grotescas, dos reis feios e nus, das explicações cabotinas, da falta de providências e de autoridade, da euforia apoteótica de um lado, e da realidade tão diferente de outro. Do que nos ronda insuspeitado ou faz caretas na nossa janela, e a gente nao acredita, nem se mexe, se ficarmos quietos o fantasma desaparece e o diabinho recolhe o rabão.

Eu ia embora porque enjoei da repetição obsessiva de fatos que provocam insônia no noticioso da noite e náusea no café da manhã. Ia partir sem endereço, sem telefone, sem email. Levaria comigo pássaros, crianças, e esta paisagem diante da minha janela (com nevoeiro, porque aí é de uma beleza pungente).

Levaria familia, amigos, livros, música e o homem amado.

Na minha nova e mágica terra eu tentaria não escrever mais sobre o que por estas bandas tem me angustiado ou ameaça transformar-se num tédio: sempre os mesmos assuntos? Só mencionaria o que faz a vida valer a pena: as coisas humanas, bons relacionamentos, escolhas positivas, alegria, vida e morte, e o mistério de tudo.

Talvez escrevesse sobre a dor (mas uma dor decente).

Sobre grandes ou pequenas vitórias, como quem deixou de beber ou de se drogar, quem teve coragem de ter um filho, quem sentiu a glória de se apaixonar com mais de sessenta anos, quem conseguiu abraçar um pai, um filho, a mãe que estava afastada.

Nem problema de transporte eu teria: para Pasárgada se viaja com o pensamento. Ainda bem, pois de avião estava sendo loucura e risco —- ainda outro dia vi num aeroporto um simples pai de familia com uma criança nos braços e outra dormindo no banco a seu lado, que, estava lá há quase 24 horas, e, entrevistado sobre aquele desconforto, respondeu: “A casa já caiu, temos de nos conformar “.

Pois eu acho que nem precisamos nos mudar de estado ou país, nem devemos nos conformar. Resignar se é ajudar a implantar o caos e a negligencia generalizada; a passividade é uma dessas alegrias falsas, que a gente devia questionar. Roubaram meu carro, não minha vida; mataram meu amigo, não a familia toda: por trás desses comentarios, que não inventei, espreita uma resignação maligna, que colabora com o mal que nos fazem.

É para rir ou para chorar? Ora rimos,ora choramos, esse é o novo jeito de ser.

Não em Pasárgada.

Para onde eu também levaria as minhas velhas crenças de que não somos totalmente omissos ou sem caráter, portanto este mundo tem jeito—embora às vezes eu não tenha muita fé nisso.

Uma dessas crenças é que a gente pode,sim,ser feliz. A gente pode até se vingar de toda a chatice, a grossura, a crueldade e angustia,—sendo feliz.

Lembro a história da filha adolescente de um amigo, que, rejeitada pelo namorado, passou uns dias em profunda tristeza, mas de repente apareceu na sala, perfumada, olhos brilhantes, pronta para sair. O pai interroga: Ué, filha, voltou com seu namorado? Resposta de inesquecível sabedoria: Não, pai,eu vou me vingar sendo feliz.

“Feliz?” dirão os céticos, os cínicos ou os simplesmente realistas. Pessoas mais graves e sensatas do que eu.

Quero explicar: é as vezes só um relance, uma sensação de estar em razoável harmonia consigo, os outros, o mundo.Pode ser aquela música escutada sem saber de onde veio, a chuva que cai depois do trovão. Pode ser o trovão. Pode ser a pele incrivelmente doce de uma criança, uma voz amada nos chamando, o filho que nos telefona sem maior motivo do que saber como a gente vai, alguém conhecido na rua que nos abre um sorriso.

Poder dar o pão e o leite para os meninos, botar flores na mesa, trazer um perfume novo para a mulher, preparar um prato especial para o marido.

Curtir a natureza e saborear a arte, atender aos necessitados, preparar crianças e jovens para a vida, cultivar gentileza e carinho na família, olhar para dentro de si mesmo e escutar seus desejos e sonhos, e respeitar seus limites, tudo isso é um bom começo.

Talvez seja uma saída. Não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar nossa postura nele.

É trabalho de formiguinha, eu sei: abrir-se para o que existe de positivo. Pois a gente pode descobrir ou inventar as coisas positivas, ainda que em alguns lugares, com algumas pessoas, ou escondidas em nós, para usar algumas vezes. Uma pequena Pasárgada em cada um.

Nossa liberdade, aqui onde nao é Pasárgada, é obrigação de escolher: abro os olhos, não abro? Como essa comida, não como? Saio de casa, não saio? Vou no meu carro, ou, por causa da segurança, chamo um taxi? Telefono, fico calada, mando um email ou risco da lista de meus endereços? (O coração sempre foi meu pior conselheiro.)

Sou boa sou má, sou verdadeira sou desonesta, sou lúcida sou louca, cresço ou permaneço, amo ou abandono, ajudo ou torturo—–e assim, com o leque das possibilidades, me foi dado o tormento das opções. Digo sim ou digo nao,ou simplesmente fujo — quem sabe para essa terra perfeita que Bandeira inventou?

Mas na última hora decidi ficar.

Pois, fugindo, eu me sentiria como quem deserta um grupo com o qual tem laços muito fortes: meus leitores. Os que que me acompanham e os que pensam diferente, até os indignados— às vezes por terem lido algo que nem estava ali, ou porque eu de verdade escrevi bobagem, falei no que nao sabia direito. Todos são importantes para mim. Afinal somos irmãos, filhos desta realidade que pode ser quase igual a uma Pasárgada inventada.

Vou me vingar da chatice, da violência, das traições, da burocracia e da corrupção instalada, sendo feliz aqui.

E quando tudo me aborrecer de verdade, quando eu ficar cansada de minhas neuroses e manias, quando as pessoas estiverem demais distraídas, a paisagem perder a graça, a mediocridade instalar seu reinado e anunciarem o coroamento da burrice, —-vou espiar o letreiro que fala de uma riqueza disponível para qualquer um, e que botei como descansa -tela no meu eternamente ligado computador:

Escute a canção da vida.

Lya Luft


Marcadores:

Um pouco mais de Lya Luft e sua poesia!


Canção na plenitude



Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.


Lya Luft


O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada",

Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.

Marcadores: ,

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Esculturas... com frutas e legumes !



Marcadores:

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Indicação de Leitura


É Carpinejar, em seu último livro, crônicas, carregadinhas de poesia, falando do homem de nossos tempos , de suas dúvidas, querências e desassossegos. É esse escritor, que tem

mais de 34.000 seguidores no Twitter , e em cujo livro leio sem querer que nunca termine:

"(... ) Carrego, portanto, a certeza de que o maior sedutor não é malandro, não é o esperto, mas o monogâmico. O fiel. O que tem olhos apenas para sua patroa.
Ele não pescará decotes mais profundos na vizinhança. Deslizará protetor em sua mulher, com calma oriental, comovido, o olfato sinceramente interessado. Acompanhará as mãos com o corpo. No fim, se aproximará dos ouvidos para sussurrar uma barbaridade. (...)" F. Carpinejar

ou

"(...) Quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha.
Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-la: avisá-la para espirar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-la, sublinhar uma frase para guardá-la.
Sou doido, mas doido varrido. Bem limpo. Aprendi a usar a furadeira e agora entro fácil em parafuso. (...) F.Carpinejar


Um livro para se ter ao lado, em nossa mesinha de cabeceira. Porque é atual, porque fala de nossos conflitos. Porque é sensível e porque adota e acata nossa pieguice de queremos ser antiquados na medida certa.

Karla Julia

Marcadores:

Visita virtual do Palais de l´Élysée



Cliquem na imagem
e vejam que maravilha!!

Marcadores:

CALENDÁRIO GREGORIANO

CALENDÁRIO GREGORIANO






Teremos sucesso no novo ano que começa?
- Para vencer, depende de qual seja a nossa pressa.
Ainda bem que tudo não é mesmo sempre igual
- Seria - se não tivessem inventado um calendário genial!
Imaginem se esse miraculoso calendário não existisse?
Sem ânimo pra renascer... tudo seria muito triste.
No suceder das luas e das quatro estações,
Ficaria atrelado, sem destino, o nosso coração.
Assim, para marcar com precisão a vida, ano a ano,
Nasceu o calendário mundial, Gregoriano.
Nada de lendas ou misticismo para nos guiar,
À cada doze meses um ciclo a se fechar.
Janeiro, dedicado a Janus, deusa da mitologia,
Fevereiro a Februs, março a Marte – que magia!
Abril, maio e junho – deles nada nos registra a história,
Julho em homenagem a Júlio César, se não falha a memória.
Agosto para celebrar Augustus, sétimo então para setembro,
Oitavo para outubro, nono para novembro, décimo para dezembro.
Aí está um apanhado dos meus parcos conhecimentos,
Coisas das quais ouvi falar - o povo aumenta sempre um tento.
O novo ano será mesmo capaz de nos surpreender?
Ora, tudo depende de nós, o “se ganhar” ou “se perder”.
Mesmo que eu deseje a vocês, sucesso, amor, muito dinheiro,
Milagres não acontecem não! O jeito é ir à luta, companheiros!


Mírian Warttusch

"É justo ressaltar que a reforma do calendário Juliano levada a cabo pelo Vaticano foi
feita com tal rigor científico que o atual calendário Gregoriano, passados mais de 4
séculos de sua adoção, não precisou ser ajustado sendo utilizado internacionalmente,
no mundo dos negócios e na diplomacia."

Marcadores: ,

Language Of Love (Percussion Mix)



Marcadores: ,

Parceria

Apenas Cinza


Quando contigo escrevo
exponho em palavras
meu amor e meu medo
meus fantasmas e meus enredos!
Exponho o teu, os meus desejos,
e assim expostos,
despertamos nossos demônios
ao redor do fogo sagrado
danças e rituais ancestrais,
provocando intuições fatais
e uma proximidade quase alquímica
que estremece a alma, saboreando regressos
amanheceres, e um milhão de prazeres
muito além dos normais!
Momentos eternos,
parece que brincamos de forma séria
tão séria que o meu peito gargalha,
e a poesia fala o que o coração cala.
No início tudo era semente,
tudo era princípio, tudo era um vir-a-sendo
aos poucos, submergimos à mágica,
que tornou-se parte do meu presente.
De um sol a pino,
claro ao meio dia
e candeeiro na noite fria,
queimando-nos tanto
transformando-nos em cinzas, migalhas!

E mais nada, esparramados pela estrada.

Karla Julia & Edison Gil

Marcadores: