sexta-feira, 26 de junho de 2015

Gardel- Mitologias de um gênio bastardo - 2° parte

2° parte
por Silvio Assumpção


Há quem diga que o músico se alojou na estância de Juan ‘Cielito’ Traverso, que o ajudara no início da carreira em Abasto. O amigo se havia refugiado em Tacuarembó desde 1904, fugindo da justiça por esfaquear o filho de uma família endinheirada. Lá se dedicava a gerenciar 'casas de baile', assessorado pela concubina Amanda Escayola, nada menos do que uma sobrinha do coronel Carlos Escayola, uma eventual prima de Gardel.


Afirma-se, portanto, que as respostas pelo interesse do artista estariam ligadas aos mais elementares motivos sentimentais de um homem que 'sintió su pago' de forma explícita, conhecido que era nos meios locais como el Zorzal oriental. Agregue-se que ele próprio gostava de alimentar a rivalidade rioplatense, tendo afirmado várias vezes: "Meu coração é argentino, mas minha alma é uruguaia".


E há outros argumentos de que se utilizam os uruguaios para reforçar a tese. Por exemplo, existe una cartilha militar oficial com foto de Gardel emitida pela Argentina em 1927, onde se lê: 'Nacido el 11 de diciembre de 1887 en Tacuarembó, República Oriental del Uruguay ', o que corroboraria as múltiplas manifestações do cantor, ao longo da vida, em favor de uma propaganda ostensiva em torno de sua ascendência uruguaia.


Outro fato: em 13 de julho de 1930, em entrevista a um jornal de Montevidéu, o também chamado Morocho del Abastoassegurou de forma clara ser de Tacuarembó. Três anos mais tarde, outro jornal de Paysandú recolheu dele uma nova declaração, tida como mais categórica: 'Un artista, un hombre de ciencia, no tiene nacionalidad; un cantor tampoco, es de todos y su patria es donde oye aplausos. Pero ya que insisten: soy uruguayo, nacido en Tacuarembó.'


Como confirmam quase todos os investigadores sérios, depois de o talCarlitos se utilizar de vários sobrenomes no início da vida adulta, como Gardes, Gorderes, Gardens, Garderes e Gorders, gerando confusões quase intransponíveis para os que buscam identificar-lhe as origens, desde 1910 ele assume ser 'Gardel'. Sentiu que uma melhor fonia artística se revelava pela substituição no sobrenome do 'S'  final pelo 'L', o que se concretizou com os primeiros registros fonográficos que o imortalizariam a partir de 1912. Dez anos depois, com pouco mais de trinta anos, opta por documentar-se no Uruguai e assumir a condição de tacuaremboense.

                                                        Silvio Assumpção

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