sexta-feira, 30 de outubro de 2015

DICA DE FILME: "GRACE DE MÔNACO"

                             

Ontem à noite, estreou no meu bairro o filme " Grace de Mônaco" com Nicole Kidman no papel principal.  Sem esquecer das participações essenciais os de Tim Roth e Frank Langella,  que sabem o que fazem.
 Gostei do filme. Ele mostra um momento crucial da política monegasca onde a França quase ocupou o principado (uma das famílias mais antigas da Europa) .
O que pode parecer, a princípio, mais um conto de fadas, na verdade trata-se de um conflito internacional onde a presença de Grace Kelly, Hitchcock, Maria Callas e Onassis são essenciais na resolução do impasse.
Ricamente produzido, ambientado no paraíso que é Mônaco, o glamour de uma época e as inevitáveis intrigas  monárquicas são brilhantemente desenvolvidos pelo diretor Olivier Dahan

Karla Julia

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Arte Visual

Fractal "KJ" , presente da minha querida amiga e grande artista vidual, Fátima Queiroz.

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EÇA: O GLUTÃO REFINADO

O sugestivo título é da jornalista Virginie Leite. Graças a ele, inspirado na publicação recente de Karla Júlia a respeito da lista de compras e de algumas curiosas preferências culinárias de Leonardo da Vinci, neste blogue dedicado à literatura, às artes e à cultura em geral, recordei-me de uma obra lançada há exatos vinte anos sobre as invocações gastronômicas de um dos maiores escritores da língua portuguesa: Eça de Queiroz. Um romancista que, por suas inúmeras citações alimentares, considerava as refeições não apenas como pretexto para reuniões familiares e sociais, mas como recursos para compor uma atmosfera, fazer evoluir a trama, retratar uma época e expor a sua posição em face da realidade, em particular a portuguesa. Um literato que, em Cozinha Arqueológica, já nos idos de 1893, foi capaz de estabelecer um veredito definitivo ao encontro do que pensa qualquer hedonista bem resolvido: “Diz-me o que comes, dir-te-ei o que és”. E que antecipou, desde logo, o papel essencial que a gastronomia desempenharia nos seus livros, nos quais a caracterização dos personagens tinha como elementos fundamentais o vestir e o comer. Ademais, na obra queirosiana, jantares, almoços e cafés servem à representação critica de vários aspectos, como hábitos, sexualidade e moral, da sociedade lusa do século XIX.

                                                               


Cedidos em 1995 os direitos autorais da obra à fundação portuguesa que leva o nome do escritor (e que em 2015 completou 25 anos de existência), os gestores resolveram reeditá-la com uma rouparem renovada que conta, entre outras muito bem apresentadas, com várias fotos das comidas e doces que permearam os seus livros célebres e que inspiraram a autora, a conhecida gastrônoma alentejana Maria de Lourdes Modesto. Numa nova perspectiva, coube a ela a identificação e a divulgação de várias receitas, permitindo assim perpetuar na memória os muitos episódios e cenas em que personagens dos romances queirosianos se refestelam com toda sorte de iguarias, degustam os melhores vinhos e raspam os pratos com avidez.
                                                                           

Trata-se, naturalmente, de Comer e Beber com Eça de Queiroz. Uma preciosidade literária distribuída em mais de cem páginas que por certo dariam ao consagrado romancista um grande prazer de ver, ler e experimentar, considerado que era como um amante da boa mesa e para quem a gula (apesar de incluída entre os sete pecados capitais) é uma das melhores virtudes da existência humana. Lamentavelmente, sua saúde precária não lhe permitia abusar das delícias a que se referia com entusiasmo. Nas cartas à esposa, várias vezes se queixou de males do estômago e do intestino provocados por comidas pesadas. Escrever, portanto, sobre aqueles quitutes sem poder devorá-los como gostaria, deveria ser para ele um grande tormento.

Embora não fosse um cozinheiro de fato, reconhece-se que Eça deixou uma marca indelével na cozinha portuguesa. Residindo fora de Portugal como diplomata, em Cuba, Inglaterra e França, ressentia-se da falta de contato com o país de origem e sentia saudade das iguarias da terrinha. Por isso, talvez, a culinária seja tratada com reverência por seus personagens. Para degustar um prato de bacalhau com pimentões e grão-de-bico, por exemplo, Fradique Mendes tira a sobrecasaca, ataca o pitéu sem igual e adverte os amigos que puxam assunto: “Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor Dom João V, antes da democracia e da crítica”.

Mas não é apenas portuguesa a influência detectada nos seus relatos. Morando em Paris, Eça não pôde permanecer isento aos imperativos da realidade cultural nem se furtar a registrar em seus escritos várias delicias de origem francesa, como o “Jambon aux épinards” e o “Barão de Pauillac”, este procedente de uma região do mesmo nome, famosa pela carne de cordeiros ou borregos, como se diz em Portugal.

A partir da nova edição, portanto, o leitor fiel que sonhava ser um dos convivas daqueles banquetes icônicos pode novamente saciar seu desejo, mergulhando nas particularidades dos “Ovos queimados e com chouriço”, dos "Folhados do Cocó"da “Empadas de Rosas ",dos "Bolinhos de Bacalhau", da “Sopa seca de pão com presunto e legumes”, do "Coelho Guisado à moda da Porcalhota" do “Consommé frio com trufas”, da “Cabidela”, da “Galinha afogada em arroz” (Canja) ou do famoso “Arroz de favas”, todos descritos no livro com detalhes de preparação esmerada. Estes dois últimos, aliás, foram os pratos servidos às pressas ao próprio Eça quando pela primeira vez chegou à Pensão Borges, na cidade de Tormes, atual Vila Nova, em plena Região do Douro, para escrever A Cidade e as Serras. E tornaram-se, como se recorda, alguns dos pratos celebrados pelo abilolado personagem Jacinto, com grande destaque.

Por isso, cada uma das receitas do livro de Maria de Lourdes Modesto, uma das cozinheiras mais famosas de Portugal, aparece acompanhada por citações escolhidas pela professora da USP, Beatriz Berrini, grande especialista queirosiana, que oferecem o contexto literário em perfeita coordenação visual e estética, além das sugestões de vinho para a completa harmonização (com preferência pelo Verde, é claro). Para atiçar ainda mais o apetite dos leitores, as fotografias dos serviços elaborados são ambientadas como se estivessem numa mesa do século antepassado. Verdadeira síntese, pois, entre culinária e literatura
.
Para o sucesso da obra, consagrado após vinte anos da primeira edição no Brasil, a pesquisa foi árdua. Obrigou as autoras a consultar vários manuais culinários da época de Eça de Queiroz (1845-1900) e recorrer a tratados bem mais antigos, como o Livro de Cozinha da Infanta Dona Maria, do século XVI, para o preparo das “Almôndegas indigestas e divinas do tempo das Descobertas”, imortalizadas pela descrição do já citado personagem-título em Fradique Mendes: Memórias e Notas. Além disso, os produtores do livro esmeraram-se em ambientar as imagens como corresponde, recorrendo a antiquários e museus portugueses na busca de elementos decorativos de época e utilizando-se de locais que o próprio escritor frequentava, como o Restaurante Tavares e o Grêmio Literário, em Lisboa.

E não se fica apenas na imaginação, como outrora. Todos os pratos podem ser hoje consumidos, iguaizinhos, no já famoso Restaurante de Tormes, localizado na Freguesia de Santa Cruz do Douro, Conselho de Baião, graças à saudável parceria criada entre o estabelecimento (remanescente da antiga Pensão Borges) e a Fundação Eça de Queiroz.
                                                                                   

Sendo filho de brasileiro, é curioso notar que Eça nunca veio ao Brasil. No início de sua carreira diplomática, até que tentou obter um posto consular na Bahia, mas foi mandado para Havana e aqui nunca esteve apesar dos laços estreitos que preservou com a nossa cultura e vários de nossos literatos ao longo da vida.

A sua primeira ligação ao Brasil foi, efetivamente, a sua ama de leite, Ana Joaquina Leal de Barros, pernambucana. Mas, na realidade, os laços com o nosso país já se podem encontrar antes do seu nascimento. O seu avô, Dr. José Joaquim de Queiroz e Almeida, refugiara-se no Rio de Janeiro, na época das lutas liberais. Na cidade maravilhosa nasceu José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz, pai do romancista, em 1820, dois anos antes da Independência brasileira. Regressada a Portugal, a família Queiroz levou um casal de criados africanos, Rosa e Mateus. Foram estes que, mais tarde, acarinharam o pequeno José Maria Eça de Queiroz, lhe cantaram cantigas de embalar e contaram histórias misteriosas do Sertão.


Considerando o apreço dos brasileiros e africanos pela comida e sua preparação, talvez daí, da convivência íntima na própria casa, tenha surgido também esse apelo de Eça aos bons pratos, todos muito bem elaborados e descritos na sua obra com riqueza de detalhes, que permitem a seus leitores dar curso à imaginação e aguçar o paladar. Resgatando-lhe a memória, Comer e Beber com Eça de Queiroz é, pois, muito mais do que um caderno de receitas. É um livro de arte de dar água na boca, literal e literariamente. Vale a pena conferir.

                      Silvio Assumpção

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Lovers in Paris - Jacob Gurevitsch


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Bilhete do dia

"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal"

Friederich Nietzsche




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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

VIÑA VARELA ZARRANZ: SOFISTICAÇÃO E ESTILO

                         


Não há outra hipótese. Quem vive no Uruguai tem uma surpresa a cada dia. Descobre isso também quem visita o país platense e envereda pelos muitos circuitos da vitivinicultura local. Foi assim que um grupo de privilegiados, entre os quais muitos brasileiros, conheceram de perto os tesouros da Viña VARELA ZARRANZ, uma bodega que começou suas atividades em 1933. Um ano depois, a empresa adquiriu as instalações da adega construída em 1888, no município de Joaquín Suarez, pelo político e embaixador Don Diego Pons, que teve seu nome inscrito na história dos pioneiros da produção de vinhos uruguaios, tanto quanto Pascual Harriage e Francisco Vidiella, os que trouxeram as primeiras mudas de Tannat para a Banda Oriental do Rio da Prata.

A compra da antiga Granja Pons transformou a Família VARELA ZARRANZ em herdeira e continuadora de uma história pujante. Em 1985 adquiriram uma segunda propriedade de 60 hectares na localidade chamada Cuatro Piedras. Com a incorporação ao projeto da terceira geração familiar, em 1986, iniciaram-se um plano de renovação da área produtora fundacional e a implantação de novos vinhedos nos atuais 100 hectares consolidados, com a modernização da central de elaboração a partir do recurso a tecnologias de ponta. A busca de padrões de excelência baseados em capacitação e profissionalização permanentes fez então dessa bodega um marco singular de sofisticação e estilo. Nada menos.

                                       

                                  


São interessantes alguns aspectos da excursão. Envolta por jardins verdejantes muito bem cuidados com espécimes variados, chama a atenção, logo na entrada da aleia de oliveiras centenárias que introduzem os visitantes ao ambiente acolhedor que logo se agiganta. Descortinam-se a seguir a ambientação natural e as construções históricas muito bem conservadas da Viña, dando conta do cuidado esmerado que orienta a sua administração.

Prestigiosa e vanguardista, a bodega entesoura, ademais, particulares elementos patrimoniais da vitivinicultura uruguaia, como os gigantescos toneis produzidos em Nancy no século XIX, que vieram para o Rio da Prata desarmados e foram remontados no interior da atual VARELA ZARRANZ pelos próprios construtores, trazidos aos trópicos em 1892 especialmente para esse fim. Com razão, esses pioneiros exemplares de carvalho francês, os mais antigos em uso no Uruguai, perfeitamente conservados, estão tombados pelo patrimônio histórico e são uma atração à parte na visita às instalações subterrâneas, com paredes de cinquenta centímetros de largura que lhes garantem temperatura e umidade constantes. Convivem hoje com outras barricas menores, modernas, onde repousam os melhores vinhos da família.

Mas o valor e os méritos da tradição e da ambientação contemporânea não se esgotam ai. Vários hectares de vinhedos verdejantes, em plena primavera, se perdem de vista. A enóloga e atual diretora de exportação da bodega, Victoria Varela, acompanha os visitantes no percurso exploratório da zona vinícola principal, em Canelones, e assinala com orgulho que ela alberga cepas francesas originais e clones hoje produzidos com sucesso no Uruguai. A Tannat abre a lista, mas há também Cabernet Sauvignon,  Cabernet Franc e Merlot, que geram varietais e blends amplamente reconhecidos pela crítica especializada. Entre as uvas brancas, destacam-se a Chardonnay, a Sauvignon Blanc, a Viognier, a Muscat de Frontigan, a Muscat Ottonel, a Bourboulenc, a Marsanne e a Muscat Petit Grain, esta última como uma absoluta exclusividade da bodega.
                               



Ademais, os visitantes descobrem que o sistema adotado para a disposição ou condução dos vinhedos foi desenvolvido pelo investigador Alain Carbonneau, diretor do Instituto de Altos Estudos do Vinho de Montpellier e uma figura emblemática no setor vinícola mundial, especialmente na França. Chamado de “Lira”, o método adotado permite uma significativa expressão vegetativa das videiras, já que as uvas nascem de plantas altas e amplas dispostas verticalmente em dois braços montantes, simulando o antigo instrumento de cordas, a fim de receber dos raios solares a maior quantidade de energia possível. Assim, captam toda a luz do ambiente, todo o ar do clima e toda a riqueza de um solo ideal para o cultivo de variedades nobres.
Ao visitar a Viña no verão de 1989, conta-se que Carbonneau se manteve em prolongado silêncio, emocionado diante dos vinhedos exuberantes e dispostos em pleno trópico de acordo com sua metodologia. Ele sabia do esmero dos proprietários uruguaios ao recorrer ao seu saber erudito. Mas ali descobriu uma paisagem que superava o imaginado. A surpresa reverencial do ecofisiólogo francês foi um “momento sublime” para os herdeiros de Ramón e Antonio Varela, estes filhos de comerciantes galegos que se estabeleceram em Las Piedras em princípios de século passado e que fundaram em 1933 a cooperativa Viticultores Unidos Del Uruguay (VUDU), cativados pelos desafiantes elementos de cor e de sabor que resultariam daquela empreitada pioneira.
 
Na ocasião, o professor de Montpellier soube também que na Viña VARELA ZARRANZ, a cada vindima, os cachos são colhidos de forma manual, partem cedo à adega em baixa temperatura e começam a ser processados de imediato, conforme ele recomendava, a fim de que se preservem os aromas e o frescor das uvas e que se possam elaborar vinhos frescos e aromáticos, sem passagem por barril. Exatamente estes, da colheita de 2015, depois de oitenta anos de renovada prosperidade do terroir, foram os oferecidos pela bodega à degustação do grupo visitante, acompanhada de cuidadoso e harmonizado almoço que culminou com sorvetes caseiros recobertos de calda de Tannat. Um requinte, um estilo de recepção que poucas vezes se repete.

Ressalte-se que a bodega acumula vários prêmios nacionais e internacionais. Seu Tannat 2004 logrou a única Grande Medalha de Ouro uruguaia até então concedida, em Bruxelas. O Tannat Crianza, que permanece em barril por doze meses, obteve três Medalhas de Ouro em 2006 e 2007, durante concursos realizados no Brasil, na Argentina e na Eslovênia. Galardões muito bem recebidos pela VARELA ZARRANZ e assumidos como garantia dos compromissos qualitativos da empresa ao longo de décadas, a fim de que seus rótulos se mantenham entre os mais cobiçados em mais de vinte destinos consumidores, dentre os quais o Brasil que se posiciona como o primeiro importador em volume.

Pela avançada tecnologia aplicada na produção, seus exemplares de alta gama chegam hoje a qualquer lugar do mundo mantendo inalterável o conteúdo, com as mesmas características de excelência que possuem ao sair das mãos de seus dedicados criadores. Curiosamente, os vinhos de máxima qualidade elaborados com a Cabernet Sauvignon, cepa presente na VARELA ZARRANZ desde o século XIX e a que mais se beneficia do terroir, continuam sendo os mais vendidos.

Mas são da cepa Tannat, exclusivos ou associados em blends, os exemplares que merecem maior cuidado da Viña e a recompensam sobremaneira. Entre eles, destaca-se o exclusivíssimo Guidaí Detí Gran Reserva, o Tannat Crianza e o Teatro Solís, que foi produzido especialmente para comemorar o aniversário de 150 anos da mais importante sala de espetáculos do Uruguai. O que mais recomendo, contudo, são os espumantes da bodega, tendo a Chardonnay e a Viognier como bases. Eles são realmente imbatíveis e sem comparação, creio eu, com qualquer outro similar latino-americano. Em qualidade, talvez rivalize com a Brut Nature lançada no Chile pela Viña Morandé em 2012.
                                    
                                     

Como prefiro os secos, ressalto vivamente os dois exemplares dessa categoria, ambos elaborados na Viña VARELA ZARRANZ pelo artesanal método Champenoise: o Brut Nature e o Extra Brut. Este último, além de ser excelente por natureza é considerado o produto mais mimado da empresa, denominado María Zarranz em homenagem à matriarca da família, esposa do precursor Ramón Varela.

Eles são fermentados duas vezes, a segunda nas próprias garrafas, tapadas com uma capsula metálica semelhante às dos recipientes de cerveja, com a introdução prévia de um composto de fermentos e açúcar que proporcionam o nascimento das bolhas de dióxido de carbono, conforme idealizado pelo monge beneditino Dom Pérignon no século XVII. As embalagens são então colocadas em estantes com o gargalo para baixo, giradas um quarto de volta em movimentos secos periódicos, em processo chamado de “remuage”. Devido ao surgimento natural de sedimentos nas garrafas, congela-se apenas a extremidade do gargalo a 25ºC negativos, tira-se a capsula e a borra é expulsa pelo gás sob pressão. O volume do conteúdo eventualmente perdido é substituído por “vinho de dosagem”, uma mistura de vinho e açúcar, cujo teor determinará as qualificações de Brut e Extra Brut. Afinal, as garrafas são tapadas com as famosas rolhas de cortiça e mantidas na adega para a derradeira maturação, antes de ser comercializadas.

Com justiça, o María Zarranz Extra Brut ostenta na embalagem uma série de selos dourados em reconhecimento pelos seguidos prêmios recebidos nos últimos anos. Uma grande opção para comemorações especiais e o consumo durante as festas de fim de ano. Fica a recomendação.


                                          Silvio Assumpção                       
                                             

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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

DICA DE LIVRO: " UM PAÍS SEM EXCELÊNCIAS E MORDOMIAS "


Na contracapa do excelente livro de Claudia Wallin, está estampada a famosa pergunta de Renato Rusdo:"- Que país é esse?"
 O país em questão não é o Brasil, como pode parecer à primeira vista, mas sim a Suécia.
 O que parece ser uma utopia para nós brasileiros, existe e é exercida por uma sociedade de antigos guerreiros que aprenderam a se respeitar como indivíduos. A  mesma postura, segundo eles, deve ser cobrada de seus governantes.
Assim, se desenvolvem os relatos desse instrutivo livro que deveria constar nas cabeceiras de nossos representantes no Congresso e de todo o povo brasileiro.
Pode ser que assim, um dia, nossa sociedade possa desfrutar de um pouco de cidadania.

                     Karla Julia

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domingo, 18 de outubro de 2015

Dica de Filme: " O Encontro"

 
   Uma vez o poetinha disse." Que seja eterno enquanto dure" Vamos adaptar essa célebre frase para :" O amor é eterno enquanto existe."
   Essa é proposta desse delicioso filme francês , disponível na NET, onde o amor entre um homem casado e uma mulher separada é colocada em xeque pela realidade de ambos.
     Tendo Paris como pano de fundo e uma trilha sonora verdadeiramente cool, se desenrola o vaivém dessa relação atribulada.
       Eu adorei

             
                         Karla Julia
 

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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

BLEU DE CHANEL - The Film

"I´m not going to be the person I´m expected to be anymore"



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Sobre Neruda- 1° Parte

Essa é a foto de uma tela oferecida a Pablo Neruda por Diego Rivera,
com o retrato de sua amada Matilde,
grande amor de sua vida.
( "La Chascona", 
notem que entre seus cabelos está o perfil de Neruda)


   Uma das três casas barco de Pablo Neruda.
 Essa fica em Santiago,
e é chamada de La Chascona.
Um verdadeiro arquivo vivo,
é onde se econtra a tela acima.


artigo e fotos
KJ

Lá em Santiago
aprendi os "Cien Sonetos
Pablito é perfeito

                                               Karla Julia                                                                                                                                                                                                                                                                

DICA DE LIVRO: ' A REDESCOBERTA DO MUNDO' de THRITY UMRIGAR




    Mais um livro sensível, diferente, com os aromas e mistérios da Índia, escrito pela minha autora preferida. ("A Distância entre Nós", '"Um Lugar para Todos", " A doçura do Mundo", etc.)Uma história de 4 amigas de faculdade que, após muitos anos separadas, planejam reencontrar-se por causa da notícia da doença extremamente grave de uma delas.
    ...
    "(...)Mas suas palavras foram poucas e parcas, a descrição de Lal, Ka e Nishta como "amizades" tão inadequada e banal que Armaiti parou. Jane Stillman era uma amiga, assim como Susan Jacobs. Só que não tinha nada a ver. Ela jamais tinha participado de uma passeata com Jane, jamais tinha enfrentado de mãos dadas com Suan um pelotão de policiais. Laleh e as outras não haviam sido apenas suas amigas, mas sim, caamaradas. E, embora a palavra tivesse se tornado pejorativa para a queda do Muro, de repente se tornou viva e reluzente para Armaiti, repleta de peso e significado, tão luminosa quanto o amor.                              

                                                       Karla Julia


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domingo, 4 de outubro de 2015

CURIOSIDADES LITERÁRIAS SOBRE A GASTRONOMIA BRASILEIRA - Segunda Parte-

        
                                                         Segunda Parte
                                                                  



Não foi senão a partir dos primeiros anos da década de 1980 que a influência europeia em matéria de culinária oficial diminuiu no Brasil. Primeiro, pelas dificuldades orçamentárias e os custos de importação de certos produtos estrangeiros; segundo, pela progressiva escassez em Brasília de chefes capazes de manter o nível a que o Ministério das Relações Exteriores estava acostumado no Rio de Janeiro, antes da transferência da capital; e terceiro, pela própria imposição da realidade cultural brasileira, cuja riqueza culinária e vinícola passou a, digamos, adquirir cidadania e romper tradições.  


De forma mais ou menos simbólica, o grande ponto de inflexão nessa trajetória gastronômica foi justamente a visita oficial ao Brasil do presidente francês, o socialista François Mitterrand, em outubro de 1985, como o primeiro chefe de Estado estrangeiro a ser recebido na administração de José Sarney - um político de estilo extremamente protocolar e sempre cioso das liturgias que envolvem o exercício da suprema magistratura da nação.


Para os agentes do cerimonial do Estado era, portanto, o grande momento de teste, após 15 anos de funcionamento do Itamaraty na nova capital.  Tudo deveria ser e estar impecável. Aqueles que vivemos de perto aqueles dias, contudo, nunca poderemos esquecer a quase “débâcle” em que se transformou o episódio de recepção oficial do mandatário francês e de sua mulher, Danielle Mitterrand. 


Foi o maior banquete até então oferecido no Itamaraty, com mais de quatro centenas de convidados, distribuídos com lugares marcados. Ao estilo tradicional dos eventos diplomáticos predominantes nos tempos de Juscelino Kubitschek no Rio de Janeiro, depois do jantar reuniram-se no palácio outros 1200 convidados para uma recepção. Não bastassem todos os desafios logísticos e de organização, pretendeu-se levar ao limite as experiências criativas em matéria de cardápios oficiais, tendo como prato principal do banquete uma moqueca de peixe à brasileira, servida com pirão e acaçá de arroz, regada com espumante do início ao fim. Até ai tudo bem, apesar das possíveis controvérsias quanto à combinação inovadora.   

                                                                               
                                                                 


Ocorre que os organizadores, na melhor das boas intenções, desafiaram o perigo e resolveram ‘relativisar’ a participação do banqueteiro tradicional da Casa de Rio Branco, no comando da cozinha do palácio desde a década de 1960. Chamaram para a preparação do repasto uma distinta dama pernambucana, muito consagrada nas artes culinárias e habituada à idealização exitosa de jantares em “petit comitê”, mas totalmente inexperiente em relação ao atendimento simultâneo de um público volumoso e exigente, constituído das mais altas autoridades da política, da diplomacia, da economia, das finanças e dos meios nacionais e internacionais de imprensa, que ocupavam os 430 lugares à espera do melhor. Afinal, o homenageado era nada menos do que o presidente da França e não daria para errar justamente naquela oportunidade.


Mas foi um verdadeiro desastre, cujo significado político e consequências mediáticas repletaram os editoriais e as colunas sociais mais importantes do País durante semanas, levando o chanceler, o secretário geral das Relações Exteriores e o chefe do Cerimonial a pedirem ao Presidente Sarney o relevamento das funções em diversas oportunidades, até que as coisas se acalmaram. Apesar das criticas e intrigas generalizadas nos gabinetes da Esplanada e nos jornais, em defesa dos então responsáveis pela logística protocolar prevaleceu o sucesso do almoço que Sarney ofereceu a Mitterrand no dia seguinte, na Granja do Torto. Lá o casal visitante conheceu de perto o que temos de melhor: um suculento e variado churrasco de luxo, preparado por equipe gaúcha que se deslocou a Brasília trazendo na bagagem climatizada as melhores carnes da Região Sul, acompanhado da degustação de cervejas artesanais oriundas de diferentes fabricantes nacionais e tendo coloridos sorvetes de frutas tropicais trazidos de avião do Nordeste como “grand finale”.


Mas não deu para compensar totalmente a decepção anterior. O jantar de retribuição do casal Mitterrand na Embaixada da França, no dia seguinte, foi de tal maneira “francês”, impecável em tudo, que ficamos irremediavelmente mal na fita. O que talvez tenha levado o então chanceler, o banqueiro Olavo Setúbal, a declarar aos assessores do gabinete, depois de ser chamado ao telefone por Sarney para levar um pito: “No Itamaraty, política externa não dá bolo, o que dá bolo aqui é a comida”. Os detalhes lamentáveis daqueles episódios de 1985 estão registrados no livro O Cerrado de Casaca, do jornalista Manoel Mendes. Segundo ele, o Itamaraty “improvisou”, contrariando a mais cara e rigorosa regra que garante o sucesso da instituição desde os tempos de Rio Branco. Em linguagem popular, não se troca o certo pelo duvidoso. E afinal, até hoje recordada, a “moqueca do Mitterrand” entrou para os anais.

Serviu a lição. A irrefutável e consagrada competência dos diplomatas brasileiros, sobretudo os dedicados à área do cerimonial, na qual a administração de vaidades é uma constante, possibilitou ao Itamaraty dar a volta por cima e consolidar o uso de opções culinárias genuinamente brasileiras nos menus oficiais da República.  Como já assinalado, o Brasil tem uma gastronomia rica e diversificada que é distinguida por nacionais e estrangeiros.  E os presidentes da República sabem que, com os cuidados devidos para não ferir suscetibilidades e manter o respeito necessário pelas tradições e restrições alimentares dos visitantes ilustres, a culinária brasileira é uma marca registrada das relações exteriores de qualquer governo. E sempre acompanhada, alternadamente para evitar exclusivismos, dos vinhos produzidos nas Regiões Sul e Nordeste, particularmente no Vale do São Francisco. Collor, Itamar, FHC, Lula e a atual presidenta adotaram esse padrão, transformando as iguarias e os cardápios franceses em coisas do passado.


Um exemplo definitivo, entre os muitos que já vigoram há trinta anos com sucesso, é o cardápio oferecido ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 2004. Nele se pode aquilatar o quanto de inovação já se logrou em relação à oferta de pratos brasileiros, entre os quais já se incluem, ademais das Moquecas Nordestinas e Capixaba, o tradicional Cozido, o Picadinho com Farofa de Ovos e Banana, a Carne Seca com Abóbora, a Paçoca Nordestina, os Camarões na Moranga, o Baião de Dois, o Feijão Tropeiro, o Arroz de Carreteiro, o Surubim defumado, Acarajé e Casquinha de Siri, além dos sucos, doces e sorvetes feitos com frutas tropicais, entre muitas outras iguarias regionais de destaque.


Menu

Camarões flambados ao molho de ragu com purê de mandioca

Filé-mignon ao molho de pimenta verde
Suflé de goiabada com nuvem de catupiry


Vinhos

Casa Valduga Premium Chardonnay, 2004
Casa Valduga Cabernet Sauvignon Premium, 1999
Casa Valduga Asti


Em matéria publicada em abril de 2015 na Folha de São Paulo, a jornalista Flávia Foreque corrobora os avanços logrados pela diplomacia nesse particular, ao levar para a cozinha oficial da República receitas e ingredientes nacionais para conquistar autoridades estrangeiras, com aquilo que temos de mais típico e de extrema qualidade para explorar positivamente. Naturalmente, com elaboração esmerada e apresentação mais requintada.

Ela refere-se com justiça a essa prática, chamada de ‘gastrodiplomacia’, como uma estratégia popularizada em 2002 pela Tailândia com o objetivo de divulgar a própria culinária, o que foi seguido posteriormente pelo Peru, Japão e Coreia do Sul. Nada que a França não fizesse desde sempre, reconhecendo a qualidade da sua gastronomia e utilizando-a como um elemento cultural a serviço do instrumental de acercamento entre países. Como dizia um antigo embaixador francês no Brasil, “quando a culinária é boa e os vinhos também, a língua se delicia e as pessoas se aproximam”. Recorde-se a propósito, sobre essa prática centenária, a assertiva de Charles Maurice de Talleyrand, diplomata e estadista francês, chanceler de Napoleão, quando nomeado em 1830 para exercer o cargo de embaixador na Inglaterra. Consultado sobre quantos servidores desejaria receber para auxiliá-lo no desempenho da missão, ele respondeu: “apenas um bom cozinheiro, é o que eu peço”.


Ao resgatar as curiosidades elencadas por Carlos Cabral no livro A Mesa e a Diplomacia Brasileira, a jornalista Foreque fala com propriedade das precauções quanto ao perfil dos visitantes para a elaboração dos menus que lhes serão servidos, com consultas prévias a assessores sobre eventuais dietas, alergias e restrições religiosas, por exemplo. Ressalta também as características pessoais de alguns altos mandatários brasileiros em relação às atividades sociais que protagonizam, primando alguns por criar uma atmosfera mais intimista e descontraída em oposição à pompa que em geral predomina nos ambientes palacianos.


Foi assim, por exemplo, que o Presidente Lula aboliu pela primeira vez a tradição sempre em voga no Itamaraty do “serviço à francesa”, pelo qual os convidados recebem ao mesmo tempo o prato já elaborado, à mesa e por meio de garçons, e introduziu nos banquetes de Estado o sistema de bufê, muito mais lento, pelo qual cada comensal sai da cadeira e se serve, ele mesmo, com a possibilidade de repetir o repasto se lhe aprouver, sem as formalidades da ‘mis en place’. Menos informal, a Presidente Dilma preferiu o sistema anterior, consagrado na maioria dos países, sob a alegação de economia de tempo e para evitar certo constrangimento pela permanência inconfortável dos homenageados e demais convidados em longas filas, esperando para se servir e, afinal, desfrutar das iguarias.

                                                                     
                                                                 


Mesmo respeitando os estilos pessoais de cada mandatário no exercício do poder, é certo dizer que o Itamaraty faz milagres, considerando as permanentes restrições orçamentárias e o fato de que, desde a sua inauguração em Brasília, nunca contou com as facilidades estruturais e de pessoal necessárias a um bom desempenho sistemático em matéria de culinária.  Infelizmente, jamais se conseguiu que as atividades do serviço de cozinha desenvolvidas no principal e mais requisitado palácio da República, de grandes dimensões e bem planejado, servissem às reais necessidades do Ministério em matéria de cerimonial.


Com a desculpa de que um “chef de cuisine” de gabarito teria de ganhar mais do que o presidente da República, nunca foi possível fazer dela uma cozinha bem administrada e de alto nível, nos moldes, por exemplo, do Quay d’Orsay, que conta com um corpo permanente de chefes que não só atendem às necessidades do Governo francês, como também treinam profissionais, aqueles que poderão vir a ser grandes protagonistas nas embaixadas da França no exterior ou terão outros empregos de destaque.


Recordo-me que durante a gestão do embaixador Ramiro Saraiva Guerreiro, chanceler de Figueiredo durante seis anos, foi convidado a vir ao Brasil um já aposentado chefe italiano para realizar trabalho de consultoria em relação às dificuldades de funcionamento da cozinha do Itamaraty. O ilustre profissional, que havia sido um extraordinário cozinheiro durante anos em embaixadas do Brasil no exterior, relacionou tudo o que seria necessário para a profissionalização dos serviços palacianos em Brasília, esbarrando em restrições orçamentárias que não puderam ser contornadas. Tudo ficou como está até os dias presentes, com o recurso a serviços terceirizados e na dependência de licitações obrigatórias pela legislação, que nem sempre resultam no melhor serviço apesar do menor preço.


Não obstante a recordação dessa circunstância histórica em favor dos responsáveis pela diplomacia brasileira, impecáveis não apenas nas tarefas substantivas como também na área protocolar, todas enfocadas com o mesmo profissionalismo e dedicação exclusiva, o que vale ressaltar neste texto nada mais é do que a divulgação das experiências práticas que se incrementam e se aperfeiçoam a cada banquete oficial, realçando o que o Brasil tem de melhor.


Não é preciso que os menus de Estado estejam escritos em tupi-guarani para que os estrangeiros reconheçam as nossas qualidades irrefutáveis de bem servir, contando com tudo de extraordinário que o País tem para oferecer. Com austeridade e correção apenas, procura-se oferecer o melhor, dentro das condições que se apresentam. Como assinala metaforicamente o diplomata e escritor Alexandre Vidal Porto em artigo recente, referindo-se às reticências com que a atividade diplomática é enfocada no Brasil, sobretudo nos últimos anos, o que poderia aplicar-se às singulares funções do cerimonial de Estado, não é porque uma coisa é dourada que ela é supérflua. Ninguém espera que na sétima economia do mundo predomine o miserê, malgrado todos os seus problemas circunstanciais. É assim em todos os países civilizados do mundo, onde predominem o bom senso e a sensibilidade política, capazes de reconhecer os benefícios que uma boa mesa pode proporcionar às relações internacionais. O Barão do Rio Branco, patrono e maior símbolo da diplomacia brasileira, já acreditava nisso e trabalhava para a sua manutenção no longo prazo. E hoje, com as inovações e os desafios constantes, devemos cultuar-lhe a memória também nesse particular, a qualquer preço. 


Assim sendo, os livros que se detiveram sobre o assunto, citados e tomados como referência neste logo texto, revelam-se bastante interessantes e credenciados para resgatar e consolidar a forma como tem evoluído a gastronomia brasileira desde o Século XIX, demonstrando às atuais e futuras gerações uma parte oculta da cultura de um povo e de uma grande nação. Vale a leitura.


                                         Silvio Assumpção         

     

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